4 km nadando na represa em Igaratá – SP

Desde pequeno, o Fábio sempre foi muito ativo, porém evitava a maioria dos esportes com medo de se machucar. Ele tinha nascido com epidermólise bolhosa (EB), uma doença rara, multisistêmica que afeta principalmente a pele, não contagiosa e ainda sem cura. Apesar de ter a forma menos agressiva, um simples escorregão poderia causar bolhas e ferimentos na sua pele.

A pele normal possui um cimento especial, formado por colágeno e outras proteínas, responsável pela união das células da camada mais superficial da pele com a camada mais interna. Isso dá resistência à nossa pele proporcionando-lhe uma função protetora. Nas pessoas com EB, essas proteínas estão ausentes ou alteradas e isso leva ao descolamento da pele com formação de bolhas ao mínimo atrito.

Para que a sua mãe pudesse trabalhar, o Fábio passou boa parte da sua infância com os avós maternos, o seu João e a dona Neuza. Durante a semana, o seu João lhe ensinava muitas coisas sobre a vida, mas uma das lições mais importantes que aprendeu foi a de conviver com a EB. A epidermólise bolhosa é um grupo de doenças de origem genética. Boa parte da família do Fábio tinha EB, inclusive o seu avô e sua mãe. Numa época com poucas informações, a experiência do seu João foi fundamentais para o Fábio. Aprendeu sobre os cuidados com as bolhas e ferimentos, formas para prevenir lesões e toda forma de proteção que até hoje é útil em sua vida.

Depois de 180 km de bike, percurso de 42 km de corrida

Na fase adulta, gostava muito de pedalar, mas até então tinha praticado poucos esportes. Sempre achou que seria difícil ser um atleta com epidermólise bolhosa. Iniciou no Triatlhon efetivamente aos 38 anos. Para o Fábio, a modalidade em que você nada, pedala e corre, era a fórmula perfeita para “driblar” as limitações que a EB lhe trazia. Três anos após a sua primeira participação no Triatlhon, ele conseguiu completar o tão sonhado IRONMAN, prova praticada internacionalmente e que no Brasil acontece em Florianópolis. Foram 3.8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42 km de corrida, numa prova que concluiu em 11 horas e 28 minutos. Atualmente, o Fábio está com 43 anos e já completou 3 provas do IRONMAN, isso sem contar outras provas intermediárias em distâncias menores.

Na sua mais recente conquista, o Fábio ficou em terceiro lugar na prova do INSANOMAN, prova ainda mais difícil do que o IRONMAN, pois tem a mesma distância, mas com altimetria muito maior. Foram 4 km nadando na represa em Igaratá – SP e 180 km de percurso de bike, com 3.200 de ganho de altimetria e passando por várias cidades (Jacareí, São José dos Campos, Caçapava, Taubaté, Santo Antônio do Pinhal, São Bento do Sapucaí e Campos do Jordão). Em Campos do Jordão, o percurso de corrida era de subir e descer duas vezes o Pico do Itapeva com 1.100 ganho de altimetria, fechando assim os 42 km de corrida.

Terceiro lugar na prova do INSANOMAN

O INSANOMAN é considerado Hard Triatlhon e com poucos participantes (no máximo 30 pessoas), devido às condições e dificuldades. Ela é uma prova “autossustentável”, ou seja, toda parte de suplementação e cuidados são por conta do participante. Obrigatoriamente você precisa ter um staff, uma pessoa que te auxilie em todo percurso.

Esse ano foi a terceira participação do Fábio, atleta com epidermólise bolhosa, no INSANOMAN, tendo completado duas vezes. Na primeira tentativa, ele caiu no km 27 da corrida e teve que abandonar a prova pois o estrago nas mãos foi muito profundo.

Levando dois lemas em sua mente: “Nunca desista dos seus sonhos” e “Da EB ao Triatlhon”, o Fábio segue realizando os seus sonhos, com o apoio da Suzi (esposa), Lucas Vilhena (seu treinador), e todos os familiares e amigos.

Que cada vez mais as portas se abram para que pessoas que vivem com uma doença rara possam conquistar os seus sonhos. Que um atleta com epidermólise bolhosa possa ter o apoio e suporte da família e sociedade, para viver uma vida de inclusão.

Parabéns por mais essa conquista das nossas borboletas!